Dra. Ana Beatriz

Esquecimentos e Lapsos de Memória

“Somos quem somos por causa do que aprendemos e do que lembramos.” – Kandel (2011)

Aprendizagem é o processo de aquisição de informações, e a memória é a capacidade do nosso cérebro de armazenar, reter e recuperar essas informações. Esquecer também faz parte do funcionamento normal do nosso cérebro, até certo ponto!

Nosso cérebro esquece tanto de coisas boas, quanto de coisas ruins. Não vamos ficar lembrando de tudo a todo momento, porém existem métodos e situações em que podemos resgatar essa memória. Também precisamos saber que nosso cérebro não faz questão de memorizar tudo, principalmente o que não é importante para nós (e isso é extremamente individual).

Nas últimas décadas, a incidência de queixa de memória em pacientes jovens vem aumentando significativamente e, segundo alguns estudos, cerca de 30% dos jovens adultos relatam alguma dificuldade neste campo com esquecimentos frequentes, principalmente de informações recentes. Um estudo de 30 centros de doença de Alzheimer nos Estados Unidos indicou que 50% dos os pacientes avaliados foram determinados como tendo cognição normal.

Quando então essa queixa se torna preocupante?

Quando ela começa a atrapalhar o dia-a-dia da pessoa, se as coisas esquecidas são do âmbito familiar ou profissional e se elas causam problemas no convívio, no trabalho ou em alguma outra área importante da vida dessas pessoas.

Hoje em dia, temos uma vida extremamente corrida e atribulada, com inúmeros compromissos e informações a todo momento, sendo eventualmente normal esquecer as chaves do carro, entre outras coisas. Mas o preocupante, é a recorrência desses eventos. É de suma importância as observações que os familiares e os colegas de trabalho fazem e se eles realmente notaram mudanças.

Porém, existem diversos motivos pelos quais os jovens podem estar relatando cada vez mais este tipo queixa, pois, para o funcionamento normal do nosso cérebro, várias coisas podem influenciar:

  • Estresse: O estresse crônico pode afetar a memória e a concentração. As pessoas que estão sob alto estresse devido a demandas acadêmicas, pressões sociais, problemas familiares ou outras questões podem sofrer de problemas de memória e esquecimento.
  • Sobrecarga cognitiva: Pessoas que estão sobrecarregadas com múltiplas tarefas e responsabilidades podem achar difícil se concentrar e lembrar de tudo o que precisam fazer.
  • Falta de sono: Pode afetar negativamente a memória e o funcionamento cognitivo em geral. Muitos jovens têm hábitos de sono irregulares ou inadequados, o que pode contribuir para problemas de memória.
  • Estilo de vida pouco saudável: Dieta pobre em nutrientes, falta de exercício físico, consumo de álcool, drogas ou cigarros, podem gerar problemas de memória e esquecimentos
  • Sobrecarga tecnológica: O uso excessivo de dispositivos tecnológicos, como computadores, smartphones e redes sociais, pode afetar negativamente a memória, a capacidade cognitiva e de concentração. Muitos jovens usam esses dispositivos várias horas por dia, o que pode afetar sua memória. 
  • Transtornos de ansiedade: A ansiedade pode afetar a memória e a capacidade de concentração dos jovens.
  • Efeito colateral de medicação
  • Condições médicas:
    • Transtorno do sono
    • Ansiedade
    • Depressão
    • TDAH
    • Genética
    • Infecções do SNC
    • Inflamações do SNC
    • Distúrbios Hormonais
    • Deficiência nutricional
    • Isquemias
    • Disfunção da memória psicogênica
    • Amnésia dissociativa
    • Distração
      • Podem afetar a memória e a capacidade cognitiva.

E é por isso que, quando a queixa se torna recorrente, é hora de procurar ajuda de um neurologista para se afastar distúrbios orgânicos e outras causas e para melhor poder orientar e tratar dependendo da causa encontrada para a queixa de memória.

Para iniciar a investigação, necessitamos de múltiplas abordagens:

  1. Avaliação clínica detalhada: história evolutiva do quadro, história médica do paciente, exame clínico e neurológico completo.
  2. Teste neuropsicológico: realização de testes para avaliação da função cognitiva como um todo, incluindo todos os tipos de memória.
  3. Exames de imagem: avaliar a estrutura cerebral e detectar / descartar qualquer anormalidade que possa afetar a memória
  4. Exames laboratoriais: incluindo vitaminas, hormônios, sorologias entre outras condições que podem afetar a função cognitiva e a memória.
  5. Questionários / Entrevistas: com paciente e familiares para avaliar a extensão da perda de memória

Após investigação, manter um acompanhamento e monitoramento ao longo do tempo para avaliar se houve mudança para possível ajuste no plano terapêutico.

O tratamento para pacientes jovens e sem comorbidades, em que não houve alteração em exames, irá depender da causa subjacente que está levando a queixa principal:

  • Manter acompanhamento médico para avaliação se haverá ou não progressão da queixa e dos sintomas
  • Estilo de vida saudável: Rotina de sono regular, aumentar a ingesta de alimentos saudáveis / dieta balanceada, realizar exercícios físicos regularmente
  • Reduzir a sobrecarga cognitiva: Priorizar as tarefas mais importantes e dividir os grandes projetos em tarefas menores e mais fáceis de administrar.
  • Praticar técnicas de gerenciamento de estresse: Técnicas de relaxamento: meditação / ioga. Elas podem ajudar a reduzir o estresse e melhorar a memória.
  • Limitar o uso de tecnologia: Estabelecer limites de tempo gasto com tecnologia além de pausas frequentes para descansar sua mente.
  • Psicoterapia: nos casos em que estiver apresentando estresse / depressão / ansiedade e estes possam estar afetando sua memória. Assim, pode-se desenvolver estratégias para lidar com esses problemas havendo consequente melhora da queixa de memória.
  • Treinamento da memória: Ajuda a melhorar as habilidades de memória e concentração. Exemplos: jogos de memória, exercícios de concentração… pode ser acompanhado pela terapia cognitivo-comportamental.

Caso haja alguma causa clínica para a queixa de perda de memória, ela deverá ser tratada de acordo!!
Lembrem-se de que a memória é uma habilidade que pode ser treinada e melhorada. Praticar atividades que desafiem sua mente, como jogos de memória ou aprendizado de uma nova língua, podem ajudar a melhorar sua capacidade de memória.

Fontes:

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